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Privacidade como ficção

  • Foto do escritor: Bruno Ragassi - PITADAS CLÍNICAS
    Bruno Ragassi - PITADAS CLÍNICAS
  • 11 de ago. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 2 de set. de 2020

Para que possamos desbanalizar e sair do maniqueísmo de certo ou errado com relação à privacidade é necessário entender como o termo surgiu. Se retornarmos não muito, até a idade média, a noção de ‘’eu’’ como entidade independente, portadora de uma subjetividade e privacidade não existiam: as pessoas viviam em um só cômodo onde faziam suas necessidades, tinham relação sexual, etc. Tudo para todos verem, até mesmo as crianças. Inclusive o Estado tinha acesso a todos os aspectos da vida do indivíduo.


Com a revolução francesa, a cidade se desenvolve e os comerciantes – nova classe social -, tornam-se uma nova elite cuja tendência enfraquece a monarquia. Nas cidades, onde o comercio florescia, as casas não mais podiam ter um só cômodo, pois uma nova necessidade surgiu: a de separar o comércio da vida familiar. Aos poucos começamos a criar o que modernamente chamamos de privacidade e escondê-la, para que não a misturássemos com a mercadoria posta à venda. Começa aí uma certa vergonha e constrangimento com alguns aspectos de nossas necessidades. Surge com a modernidade nosso conceito atual de ‘’eu’’, por influência do nosso amigo Descartes.

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A lei passa a proteger a privacidade junto com o direito de propriedade. Por exemplo, atualmente, não se pode executar uma ordem de prisão após o crepúsculo ou num certo horário, pegando alguém de pijamas enquanto dorme. Isso decorre do nosso direito de privacidade.


Com a queda da modernidade – preconizada por Foucault - e surgimento da era cibernética caracterizada pela invenção da internet e o ‘boom’ das mídias sociais, criamos um espaço completamente horizontal -semelhante ao velho cômodo das moradias da idade média- onde não há separação entre o que é mercadoria (o que pode ser visto) e o que é privado (o que não pode ser visto).


Qual o problema disso? Nossa sociedade não está preparada para ver o que ela mesma faz! E pior, naturalizam-se tanto alguns valores morais – não se consegue entender que são processos históricos - que eles acabam por se sobrepor ao direito à vida. Por exemplo, o caso da menina que se suicidou após divulgação de conteúdo privado na rede.


Enquanto não conseguirmos levar a cabo um dos lemas da revolução francesa, qual seja, a solidariedade, demandas judiciais e tentativas de controle do conteúdo on-line não vão de fato impedir que nos envergonhemos de nós mesmos.

 
 
 

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